Por: Fenajufe
25/07/2023 - 20:37:43

Em 1992, um grupo de mulheres negras se reuniram na República Dominicana com o objetivo de discutirem formas de combate ao racismo, à opressão e discriminação de gênero e raça, heranças infelizes do escravagismo. No encontro definiu-se o dia 25 de julho como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha. Desde então, a data ficou conhecida como dia de luta das mulheres negras, sua condição e resistência, trazendo reflexão para a necessidade de igualdade de direitos, gênero e de oportunidades.

No Brasil, a data só passou a ser respeitada em 2014, quando a então presidente Dilma Rousseff sancionou a lei 12.987, conhecida como Dia de Tereza de Benguela, em homenagem ao símbolo de resistência do povo negro. Mesmo que haja quem diga que no país não existe racismo, a discriminação racial se evidencia através de números e estatísticas.

Sendo a maior parcela da população composta por homens e mulheres negras, elas ainda são exploradas, invisibilizadas e negligenciadas socialmente. Dados comprovam que essa parcela da população é a que mais sofre com as desigualdades.

Nesse sentido, a mulher negra figura como protagonista dessa perversa realidade social. É dela as piores colocações no ranking das desigualdades. São elas também que despontam no número de casos de violência doméstica e sexual, e as que mais morrem por feminicídio no país. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (ABSP), 62% das vítimas deste tipo de crime no Brasil são de mulheres negras.

Já dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgados na pesquisa “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça de 2022″ comprovam que elas têm as piores condições de renda. Apesar de possuírem maior nível de escolaridade do que os homens negros (7,4 anos de estudo contra 6,3, em média), as negras têm o maior índice de desemprego da sociedade (cerca de 12,2%), atrás das mulheres brancas (9,2%), dos homens negros (6,4%) e dos homens brancos (5,3%).

Quando o assunto é saúde pública, elas também ficam atrás. Poucas têm acesso digno e ainda encabeçam o topo da lista como maiores vítimas da violência e mortes obstetrícia. Em caso de aborto e havendo denúncias pelo Sistema Único de Saúde (SUS), essas mulheres são criminalizadas e punidas.

Todos esses dados escancaram o quão distante estão as mulheres negras da igualdade, de direitos, racial ou de oportunidades. Mesmo que a data promova o debate temático no dia a dia, o Brasil carece de leis que oportunizem uma vida digna e de respeito às suas mulheres da raça negra.

E mesmo que tenham aprendido a gritar por seus direitos desde o século XVIII, elas ainda lutam por representatividade, direito de ocupar espaços de fala e poder, e principalmente, o direito de ser e re-existir.

Aliás, resistir, construir, lutar, esperançar e avançar são verbos que as mulheres negras carregam dentro de si, historicamente. Desde a luta contra a escravidão aos tempos atuais, elas fazem diferença no mundo.

A data também reforça o orgulho de cada uma delas por não terem vergonha de mostrar a cor da pele: na defesa de seus direitos, de seus corpos ou de sua ancestralidade.

Que nunca lhes seja tirada a força de lutar. E que o país um dia possa avançar sem definição de raça ou de gênero para uma sociedade justa e igualitária sem ser definida por uma composição baseada no tom de pele.

Tereza de Benguela

Mulher quilombola que se tornou líder, rainha e chefe de estado, após comandar o quilombo Quiterê, localizado entre a fronteira de Mato Grosso com a Bolívia no século XVIII. Tereza criou um sistema de Parlamento onde comandou a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo.

Por suas mãos o quilombo conquistou independência, desenvolveu a agricultura de algodão, produzindo tecidos para comercialização. O quilombo Quiterê foi destruído depois de 20 anos, seus habitantes mortos e Benguela presa e posteriormente morta pelo desgosto. Tereza de Benguela ficou reconhecida por sua visão vanguardista e estratégica.

Fonte: Fenajufe


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