Por: Marília Marques, G1
13/10/2018 - 12:15:22

Dos 48 anos de vida da professora Valéria Ribeiro, mais de 30 foram dedicados às salas de aula. Ela começou a ensinar Língua Portuguesa para crianças aos 16 anos. Desde então, não parou mais. Depois das salas com alunos regulares vieram os adolescentes privados de liberdade nas unidades do sistema socioeducativo e, hoje, ela ensina inglês para moradores de rua no projeto Meninas e Meninos do Parque, em Brasília.

O Dia do Professor será comemorado nesta segunda-feira (15), e a série de reportagens "Professores que transformam" destaca quatro professores inspiradores e com boas iniciativas que têm mudado a vida de jovens, crianças e adultos no Distrito Federal.

Conheça Valéria, educadora do DF que dá aulas de inglês a moradores de rua:

A história da professora Valéria Ribeiro mostra como a empatia com os estudantes facilita o processo de aprendizagem. Ela é professora do segundo ciclo na modalidade de Educação Jovens e Adultos (EJA) e escolheu o caminho das salas de aulas por acreditar que "a educação transforma vidas".

O G1 também vai mostrar o trabalho de um professor de biologia que, com a ajuda de mais de 50 estudantes, está levando cores às casas de famílias de baixa renda. Com isso, a educação tem ajudado a transformar a realidade de uma comunidade rural do Riacho Fundo II.

Na terceira reportagem da série, um professor de ciências exatas – também da rede pública do DF – mostra como o incentivo à pesquisa levou uma turma de alunos do Centro de Altas Habilidades de Sobradinho a ser convidada para um projeto da Agência Espacial Brasileira.

E, para finalizar, na segunda-feira (15), a reportagem vai mostrar como uma unidade do sistema socioeducativo do DF se tornou referência em cultura e educação. A unidade é a única participante, em um concurso nacional, em que os alunos estão privados de liberdade.

Pedagogia do afeto – Pelos corredores da escola para "meninos e meninas de rua", em um estacionamento do Parque da Cidade, área central de Brasília, Valéria Ribeiro distribui abraços. A metodologia, segundo ela, é "científica" e serve para estreitar os laços com os alunos que chegam para assistir as aulas.

 

Alguns, que estão drogados ou sujos, vão direto para o banho. Depois, vestem o uniforme de estudante, almoçam e alguns pedem para cochilar em colchonetes antes de entrar na sala de aula. Valéria sabe o significado desse pedido.

"Quando pedem para dormir sabemos que tiveram uma noite difícil."

Uma hora e meia depois, o grupo se organiza nas carteiras para aprender sobre redação, interpretação de texto e vocabulário básico do inglês. No dia que o G1 esteve na escola, o grupo fazia uma revisão sobre os doze meses do ano.

Valéria atua há nove anos no projeto. Antes, a pedagoga passou pelo sistema socioeducativo do DF. Ela deu aulas para adolescentes privados de liberdade em São Sebastião. A experiência e o amor à profissão, conta, a fizeram "olhar diferente" para cada um dos atuais alunos.

"Em sala de aula, o mais importante é olhar nos olhos deles, deixá-los à vontade, é deixá-los falar."

"Para Valéria, pessoas em situação de rua precisam ser ouvidas. "Elas mesmas se punem por não terem uma família, por não terem estudado ou acham que não têm mais tempo", diz a educadora.

"Eles percebem que são diferentes, que para sociedade eles são sujos ou errados, mas na escola trabalhamos a autoestima para mostrar que todos são humanos, que têm direito ao amor, ao abraço e ao direito de aprender."

Inglês nas ruas – Questionada sobre o modelo adotado para ensinar um idioma, Valéria – que tem 32 anos de magistério – diz que o que importa "não é ensinar todas as conjugações do verbo 'to be', em inglês", mas "envolvê-los no conteúdo e criar afinidades".

"Eles vêm da rua achando que não sabem nada, que perderam tempo na vida, que a sociedade não vai perdoá-los".

Para aumentar a motivação dos alunos, a professora faz uso da psicologia. "Faço um elogio sobre o que ele acertou. Cada vez que eles aumentam a autoestima, se sentem mais seguros para falar", explica ao se referir ao comportamento arredio de alguns.

As paredes coloridas do colégio também foram pensadas para levar alegria e leveza ao lugar. São os estudantes quem vão às salas de aula dividas por ambiente: português e inglês, ciência, história, matémática.

Valéria passa conteúdos individualizados e o modelo de avaliação também é direcionado para cada um. "Muitas vezes, apesar de estar no mesmo ciclo de aprendizagem do colega, o aluno nem sempre têm a mesma capacidade de compreensão", explica.

Estudando cicatrizes – Entre uma aula e outra, além do conteúdo curricular, Valéria incentiva os alunos para que não desistam. Para ela, a educação é o caminho e o desafio proposto para a turma é buscar uma vaga na universidade.

A professora explica o sistema de cotas, direitos sociais e fez uma lista das bibliotecas públicas da capital onde os alunos podem estudar fora do período de aula. "Não importa a idade, o importante é eles acreditarem neles mesmo", afirma.

"Aqui a gente compartilha vidas, compartilha histórias; as cicatrizes físicas e as do coração. É isso que me faz querer continuar."

"Quero ser diferente para ajudar a transformar a vida deles", conclui Valéria, enquanto tenta conter a emoção.


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