Por: Gabriela Matias
11/07/2025 - 14:33:07

Na última quarta-feira (09), o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou
uma carta aberta endereçada ao presidente Lula. Nela, anunciou a decisão de impor uma nova
tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA, alegando uma série de
razões políticas e comerciais. A iniciativa não pegou apenas os mercados de surpresa —
também provocou reações políticas e institucionais. O gesto de Trump tem sido interpretado
por especialistas como um exemplo clássico de pressão autoritária com fins ideológicos, onde
interesses econômicos servem de pano de fundo para disputas de poder e apoio eleitoral.
Neste artigo, vamos entender os elementos por trás dessa medida e o que ela representa para
o Brasil.

Trump mistura política interna brasileira com interesses
comerciais dos EUA
O ponto mais polêmico da carta é o apoio explícito de Trump ao ex-presidente Jair
Bolsonaro, atualmente enfrentando processos na Justiça brasileira. Trump classificou a
situação como uma “vergonha internacional” e, num tom provocativo, culpou o Supremo
Tribunal Federal por suposta perseguição política.

Em vez de abordar divergências comerciais de forma diplomática, Trump preferiu usar a
retórica de campanha, acusando o Brasil de censurar redes sociais americanas e ameaçando
represálias econômicas. O resultado é um ataque direto à soberania do país, misturando
elementos da política brasileira com uma agenda de polarização que ele também explora em
sua corrida eleitoral nos EUA.

A tarifa de 50% pode sufocar setores chave da economia
brasileira
A medida anunciada atinge diretamente a competitividade das exportações brasileiras para o
mercado norte-americano. Produtos como soja, carne, aço, café e manufaturados podem se
tornar inviáveis economicamente com o novo encargo. Como reflexo imediato, o dólar
disparou e a bolsa de valores sentiu o impacto negativo no mesmo dia.

Esse tipo de tarifação não é comum em relações entre parceiros comerciais históricos como
Brasil e Estados Unidos. Além de violar o espírito de acordos multilaterais, prejudica
produtores, exportadores e pode provocar demissões em série em setores voltados à
exportação. A imposição unilateral de Trump, se mantida, pode enfraquecer drasticamente a
balança comercial brasileira.

A diplomacia brasileira enfrenta um dilema: reagir ou negociar?
Diante da ameaça, o governo brasileiro terá de decidir se busca retaliação, mediação
diplomática ou uma ação na Organização Mundial do Comércio (OMC). Nenhuma dessas
opções é simples. Um contra-ataque tarifário pode agravar a situação e causar mais prejuízos
econômicos. Por outro lado, ficar calado pode parecer sinal de submissão.

O Itamaraty terá papel decisivo nos próximos passos, assim como os ministérios da Fazenda
e do Desenvolvimento. Como lembra o advogado João Valença, do VLV Advogados, apesar
de o gesto ter sido político, a reação brasileira pode — e deve — se basear nos pactos
internacionais em vigor, especialmente quando o comércio internacional está sendo
distorcido por pressões eleitorais externas.

Instrumentalização do comércio como arma política
Não é a primeira vez que Trump utiliza barreiras comerciais para impor vontades políticas.
Durante seu primeiro mandato, usou a mesma tática com a China, o México e até aliados
como o Canadá. O diferencial agora é que, no caso brasileiro, há um claro alinhamento com
figuras da extrema-direita nacional, transformando a tarifa numa ferramenta de apoio indireto
ao bolsonarismo.

Esse tipo de comportamento rompe com a lógica tradicional da política externa americana,
baseada na previsibilidade e no respeito institucional. No lugar disso, vemos um estilo
personalista, que transforma medidas comerciais em ataques a governos que não
compartilham da mesma visão ideológica.

Reações e riscos para o Brasil nos próximos meses
Se nada for feito, o Brasil corre o risco de abrir um precedente perigoso. Se Trump for eleito
novamente — cenário cada vez mais possível — o país poderá enfrentar um ambiente ainda
mais hostil, com ameaças tarifárias recorrentes. Além disso, a carta deixou claro que o ex-
presidente dos EUA pretende reavaliar as tarifas “caso o Brasil modifique sua política
comercial”, o que é lido como uma chantagem diplomática.

Empresários já demonstraram preocupação, e entidades do setor produtivo cobram do
governo uma resposta urgente. Negociações com a OMC e medidas de contenção econômica
interna podem ser inevitáveis. A alternativa de se submeter à pressão, abrindo o mercado em
troca de trégua, pode trazer mais riscos do que soluções a longo prazo.

A carta de Donald Trump a Lula representa muito mais do que um comunicado comercial.
Trata-se de uma jogada política, com motivações eleitorais e ideológicas claras, que
instrumentaliza tarifas alfandegárias para atacar o governo brasileiro, proteger aliados
políticos e agitar sua própria base nos EUA. Para o Brasil, o desafio será lidar com as
consequências sem cair em armadilhas de confronto ou submissão.

A resposta brasileira precisa ser prudente, firme e embasada nos tratados internacionais que
regem o comércio global. Em momentos como esse, a atuação coordenada entre diplomacia,
economia e assessoria jurídica é essencial para proteger os interesses nacionais sem perder a
autonomia nem ceder ao jogo de intimidação. O futuro das relações entre Brasil e Estados
Unidos passa, agora, por um momento decisivo — e cada passo precisa ser calculado.


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