Presidente do COB com o prefeito da cidade francesa Saint-Ouen sur Seine, Karim Bouamrane
Imagem: Jamil Chade/UOL
O prefeito da cidade de Saint-Ouen, nas proximidades de Paris, inaugura neste sábado (30) a rua Doutor Sócrates, a primeira do mundo com o nome do ex-jogador brasileiro. Mas deixou claro que a escolha não é apenas um gesto ao esporte brasileiro.
Karim Bouamrane conta que morava justamente na região que ganhará o novo nome, em sua infância. "Eram casas insalubres há 49 anos. Pareciam favelas", contou.
Sua cidade será a sede de quase 300 atletas brasileiros nos Jogos Olímpicos de Paris e a rua com o nome do ex-jogador ficará dentro da Vila Olímpica. Terminado o evento, o local será transformado em um bairro.
Para isso, Saint-Ouen deu subsídios equivalentes a R$ 1 milhão para receber o COB, que pagou a outra metade dos custos.
Segundo ele, Sócrates era uma das inspirações daqueles garotos no começo dos anos 1980. "Ele era o exemplo de fraternidade, de igualdade", insistiu.
O prefeito acredita que a homenagem é ainda uma resposta "a todos aqueles que dissemos não, incluindo indígenas, mulheres, LGBT".
"É para todos aqueles que também sofreram pela ditadura, todos aqueles que lutaram pela democracia", insistiu.
"Por meio do Sócrates, vamos homenagear a todos os brasileiros, por tudo que vocês representam em termos de esperança, de democracia", disse.
"Vencer ou perder, mas sempre com democracia. Esse é o valor que levamos aqui. Num momento em que extremistas, como [o ex-presidente Jair] Bolsonaro, precisamos nos inspirar na dinâmica da democracia do Brasil para que toda uma geração também diga que somos orgulhosos de sermos franceses, orgulhosos de sermos democratas", disse, sem esconder sua predileção pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O prefeito, que recebeu nesta sexta-feira a delegação do COB, não hesitou em criticar e elogiar todos aqueles que lutaram pela democracia no Brasil contra Bolsonaro.
"Viva a Democracia Brasileira", disse, lembrando do "impacto devastador" que Bolsonaro teve para a Amazônia.
Bouamrane apontou ainda como Raí foi "um dos poucos" nomes do mundo do futebol a se opor a Bolsonaro.
"O que ocorre no Brasil é o que começa a ocorrer em Portugal, Itália e outros países europeus. Há uma ofensiva da extrema-direita. A parceria que temos com o Brasil, portanto, nos da esperança", disse.
O prefeito admitiu que está preocupado também pelo avanço da extrema-direita na França e por uma vitória de Donald Trump nos EUA. "Mas ter o medo não resolve. Temos de ter consciência do momento que vivemos. São os extremistas que precisam ter medo. É o campo de Bolsonaro e Marine Le Pen [ex-líder do partido de extrema-direita de França] que tem de ter medo", insistiu.
Para ele, o ex-presidente brasileiro instrumentaliza a miséria do povo para atingir seus objetivos.
"Por isso, entre Raí e Neymar, eu fiz minha escolha. Entre Neymar e Sócrates, eu fiz minha escolha. Aqui, é punho elevado", completou.
SUS
O prefeito ainda quer usar a presença brasileira para transformar a cidade de 40 mil habitantes. Com a cidade do Rio, ele chegou a um acordo para que estudantes de medicina e que estejam no SUS possam ir à cidade francesa para trabalhar no último ano de seus cursos.
A meta é manter dois ou três médicos brasileiros na cidade. "Temos falta de profissionais", afirmou.
A cidade ainda assinou um acordo com o Pará e vai enviar uma delegação de jovens para sensibilizar o grupo sobre a importância da questão ambiental.
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