Por: O globo
23/09/2018 - 13:53:59

No entanto, casos são sub-relatados nos atestados de óbito, que costumam descrever apenas as causas imediatas das mortes.

MINNEAPOLIS (EUA) - É consenso na classe médica que vencer o Alzheimer significa uma das maiores dificuldades do momento. O que muitos não imaginavam é que esse desafio pode ser bem maior do que se pensa. Foi essa a descoberta de um novo estudo realizado nos Estados Unidos, que concluiu que a doença pode ser responsável pela mesma quantidade de mortes causadas por males clássicos como problemas no coração e câncer. O trabalho foi publicado no jornal médico da Academia Americana de Neurologia.

O resultado da pesquisa vem “corrigir” informações do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). Segundo o CDC, o Alzheimer é o sexto na lista das principais causas de mortes naquele país. O topo do ranking é ocupado por danos cardíacos, seguido de câncer. Estes números são baseados no que é relatado nas declarações de óbito.



O Alzheimer e outras demências são sub-relatadas nesse tipo de documento e nos registros médicos. Essas declarações muitas vezes mostram a causa imediata da morte, como pneumonia, em vez de listar a demência como uma causa subjacente. A tentativa de identificar uma única causa muitas vezes não contribui para o entendimento da realidade do processo que leva ao óbito - disse na conclusão do estudo Bryan D. James, PhD da “Rush University Medical Center”, em Chicago. Ele é um dos pesquisadores responsáveis pelo trabalho.

responsáveis pelo trabalho.

Segundo o cientista, as mortes por Alzheimer excedem em muito os números reportados pelo CDC. Em 2010, segundo o estudo, 503.400 pessoas acima de 75 anos perderam a vida por causa da doença nos Estados Unidos. Este total é cinco a seis vezes maior que os 83.494 casos relatados pelo órgão, com base nos atestados de óbito.

Na avaliação da neurocientista dinamarquesa Gitte Moos Knudsen, que faz parte do quadro de diretores da Fundação Europeia para Pesquisa do Cérebro Grete Lundbeck - instituição criada pela Fundação Lundbeck para estimular a pesquisa em neurociências -, muitos idosos que sofrem com sintomas de demência não recebem o diagnóstico correto da doença.

- Talvez isso aconteça pois o problema é frequente na idade avançada, de modo que é quase considerado um curso natural da vida, ou porque as pessoas pensam que o Alzheimer não pode ser tratado. Ambas as percepções estão erradas. Essa é uma doença cerebral que requer diagnóstico correto e que pode, sim, ser tratada, embora atualmente apenas amenizando sintomas - observa.

Segundo a pesquisadora, atestados de óbito são indicadores pobres da doença e os médicos deveriam ser mais conscientes sobre a causa básica das morte, e não a causa imediata.

Gitte também defende que o preconceito, especialmente por parte de familiares, também é algo que pode influenciar no relato distorcido sobre a morte de parentes relacionadas ao Alzheimer.

- Isso é muito comum. Apresentar sintomas de demência ainda é considerado por pacientes e familiares como uma condição estigmatizada - observa.

Estudo aprofundado

Para a realização do estudo, 2.566 pessoas com 65 anos ou mais receberem um teste anual para demência. A idade média dos participantes foi de 78 anos. A pesquisa descobriu que, depois de uma média de oito anos, 1.090 participantes morreram.

Um total de 559 participantes que não apresentavam sinais de demência no início do estudo desenvolveram sintomas de Alzheimer. O tempo médio desde o diagnóstico até a morte era cerca de quatro anos. Após a morte, a doença de Alzheimer foi confirmada através de autópsia em cerca de 90% das pessoas que foram diagnosticadas clinicamente.

O trabalho averiguou ainda que a taxa de mortalidade foi mais de quatro vezes maior após o diagnóstico da doença em pessoas cuja idade variava entre 75 e 84, e quase três vezes maior em pessoas com 85 anos ou mais. Mais de um terço de todas as mortes nessas faixas etárias foram atribuídas à doença de Alzheimer.

- Determinar os verdadeiros efeitos da demência neste país é importante para sensibilizar a opinião pública e identificar prioridades de investigação sobre esta epidemia - garantiu James no estudo.

A neurologista Gitte Knudsen concorda que um dos primeiros passos na busca de soluções para este mal é desmistificar o problema.

- Hoje o Alzheimer ainda está muito estigmatizado. Isso não ajuda. O foco da população e dos governos deve ser acabar com esse tabu, pois é muito importante esclarecer o diagnóstico. É preciso ficar claro que existem tratamentos disponíveis e suporte necessário para quem tem a doença - esclarece.



 


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