O Setembro Amarelo é uma campanha voltada para a prevenção ao suicídio em todo o mundo, promovida pela Associação Internacional para Prevenção do Suicídio (Iasp), e, no Brasil, pela Associação Brasileira de Psiquiatria, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Centro de Valorização da Vida (CVV). Segundo o psicólogo Fernando Berbert, que atua em Itabuna, existem tabus e mitos sobre o assunto que só fazem agravar uma situação que já é crítica.
De acordo com o especialista, a família precisa ficar mais atenta aos sinais que uma pessoa que está perdendo interesse pela vida apresenta, mudanças de comportamento como, e principalmente, desinteresse pelas coisas que sempre foram prazerosas, sentimento de inutilidade, cansaço extremo, despreocupação com a higiene e isolamento.
O Brasil registra média de 12 mil suicídios por ano, mas existe subnotificação, principalmente de casos entre pessoas com idades entre 14 e 29 anos.
Segundo Berbert, a sociedade enfrenta um grande tabu quando o assunto é suicídio. Pesquisas apontam que, historicamente, as famílias sentem vergonha, quando um dos seus membros comete o ato. Por isso, acabam não notificando a causa mortis corretamente às secretarias de Saúde dos municípios. Muitas vezes, até solicitam aos médicos que coloquem em seus relatórios algum tipo de doença que justifique a morte.
O psicólogo diz que há quem acredite que falar sobre o assunto é uma forma de propagação e incentivo à prática do suicídio, mas que essa hipótese é uma inverdade. Os estudos mostram que, quanto mais se fala e se debate sobre o assunto, a população fica mais ciente e, consequentemente, aumenta as chances de redução das taxas.
A taxa de suicídios entre os jovens aumentou em torno de 10% ao ano no Brasil. De 2004 a 2012 foi verificado aumento substancial de ocorrências, principalmente entre os homens. Ele esclarece que, embora o índice de suicídio seja maior entre as pessoas do sexo masculino, as mulheres fazem mais tentativas. As mulheres quase sempre tentam usando medicamentos; enquanto os homens recorrem, na maioria das vezes, a arma de fogo.
As mulheres conseguem participar de redes sociais, vão mais ao médico para falar sobre o assunto e fazem o tratamento. Já o homem não tem essa iniciativa, porque a cultura é de que tem que ser forte.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma reincidência em tentativa de suicídio acontece em 50% dos casos. Na Bahia, entre 2002 e 2012, houve aumento de 104% na taxa de suicídios, passando de 236 para 476 suicídios.
Mais de 90% dos casos de suicídio têm relação com transtornos mentais. As ocorrências estão relacionadas com a depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e uso substâncias psicoativas, que potencializam para que a pessoa cometa o suicídio.
Fernando Berbert destaca ainda o sentimento de fracasso, que está relacionado com a maneira com que a sociedade capitalista cobra os indivíduos, valorizando o que ele é capaz de oferecer. Quando ele não consegue cumprir as metas do meio social, a sociedade cobra de maneira “muito forte”, tachando-a de fracassada. Conforme ele, o sentimento de rejeição é combustível para todo o processo.
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