João de Deus ficou muito famoso por ser um médium que realizava diversos tipos de curas espirituais em Abadiânia, local que fica a duas horas de Goiânia, capital de Goiás. A cidade pequena tem cerca de 15 mil habitantes e todo o turismo envolvia o nome dele, já que em 1976 ele fundou a “Casa de Dom Inácio de Loyola”, onde 80% do seu público são de estrangeiros.
Entre as pessoas que se consultaram com ele estão o político norte americano Bill Clinton, o humorista Chico Anysio, Xuxa, Marcos Frota, Lula, Dilma Roussef e diversos outros nomes famosos.
Até então, era um homem “acima de qualquer suspeita”, mas no programa “Conversa com o Bial”, 10 mulheres resolveram se pronunciar sob a condição de que suas identidades seriam preservadas. No dia seguinte, o jornal O Globo divulgou mais 3 relatos, o Jornal Nacional outros 2, e em pouco tempo outras mulheres resolveram se pronunciar, totalizando 506 denúncias de assédio.
De acordo com as vítimas, João de Deus se aproveitava dos atendimentos espirituais coletivos para chamar as mulheres individualmente em um quarto isolado sob o pretexto de que a “entidade espiritual” estava querendo curar essa pessoa. Quando ficavam no quarto somente ela e ele, ele cometia o abuso.
Devido a quantidade de acusações, o Ministério Público de São Paulo e de Goiás criaram no dia 10 de dezembro uma força-tarefa visando a investigação dos crimes, com equipes que envolviam promotores, advogados e psicólogos.
“Foram seis anos que, depois que eu consegui entender o que aconteceu comigo, que eu me senti uma covarde.” - disse uma das vítimas ao canal G1 - “Durante seis anos, ele abusou todos os dias de alguém, de crianças também e de adolescentes. Quando eu finalmente assumi isso e percebi que não tinha sido só comigo e percebi que essa história poderia ter sido diferente por pelo menos seis anos para outras mulheres”
A própria filha de João de Deus, Dalva Teixeira, também relata que seu pai abusava sexualmente. Em uma entrevista a Revista Veja, ela diz:
“Ele chegou da fazenda, pegou uma vela branca e mandou que eu marcasse a vela com a unha. Eu passei e ele falou: ‘O pai vai ter que ficar com você até o fogo chegar nessa marca, vou fazer um trabalho espiritual com você’. Minha madrasta estava sentada no sofá e vendo tudo. Aí ele me levou para dentro do quarto e tirou minha roupa. Achei aquilo estranho e disse: ‘O que o senhor está fazendo?’. Ele ficou pelado, e começou a passar o pênis dele no meu corpo todo. E eu falei que ele estava me machucando, e ele em cima de mim.
Em 14 de dezembro de 2018, a justiça goiana pediu a prisão preventiva do médium e, dois dias depois, ele se entregou à polícia. Houve uma tentativa do advogado em ter um Habeas Corpus, mas este foi negado pela justiça.
Antes dos abusos sexuais, também houve denúncias do exercício ilegal da medicina e, nos anos oitenta, ele foi acusado de atentado ao pudor contra uma adolescente de 16 anos, sendo este arquivado por falta de provas. Também esteve envolvido em contrabando de minério.
Exceto essas questões, suas “curas espirituais” também foram envoltas de muitas polêmicas entre os médicos, já que estes argumentavam que a pessoa era apenas sugestionada a melhorar e o otimismo proporcionado pela psicologia fazia a “cura” milagrosa. Os tratamentos eram gratuitos, mas o médium sempre arrecadava dinheiro com os produtos vendidos para tratamentos espirituais. Uma água comum custava R$ 1, enquanto a mesma energizada custava R$ 3.
Além disso, o ilusionista James Randi, famoso durante o século passado por suas apresentações em cassinos dos Estados Unidos como os da netbet.com, concedeu uma entrevista ao canal Terra.com.br fazendo duras críticas ao João de Deus.
“Ataquei João de Deus em um programa de televisão dos Estados Unidos e ofereci provas das farsas que ele estava cometendo, como enfiar coisas no nariz e outras coisas horríveis. Tudo que ele faz não passa de velhos truques usados em carnavais há mais de cem anos. São truques que qualquer pessoa pode aprender. Só não é algo agradável de fazer.” - disse.
Quando questionado sobre a possibilidade de seres humanos terem poderes paranormais, ele satiriza: “Sim, assim como é possível que em algum lugar do mundo possa haver um unicórnio. Se alguém me mostrar um unicórnio, acreditarei que eles existem. Mas não existe prova alguma de que há unicórnios nem pessoas com poderes paranormais.
Já vivi muito e conheço quase todos os países do mundo. Sei como todos os tipos de charlatões operam e nada me impressiona. A minha fundação oferece um prêmio de US$ 1 milhão para quem provar que tem esses poderes, mas não vejo nenhum desses charlatões reclamando o prêmio.”
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